Atividade Física e Câncer – Prevenção Primária

American College of Sports Medicine e a Organização mundial de Saúde determina a prática de pelo menos 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana para adquirir os benéficos proporcionados pelo exercício. Uma das maneiras de mensurar a atividade física é através da quantidade de METs que significa equivalentes metabólicos de tarefa, o qual é a taxa metabólica de 3,5 ml O2 /kg/min em média sendo 1 MET correspondente ao gasto energético em repouso.

A prática de atividade física regular está associada à redução na incidência de vários tipos de cânceres e muitos estudos têm relatado estes achados, Casado, 2017, comprovou redução de 24% de câncer de colon proximal, 23% de colon distal, 17% de endométrio, 12% de mama, 10% de próstata, 18% gastrointestinal, 11% de ovário, 12% renal, 24% de pulmão e 11% de pâncreas. Na população geral antes do diagnóstico, um mínimo de 2,5 horas por semana de atividade moderada a vigorosa levou a uma redução significativa de 13% na mortalidade por câncer.

O primeiro estudo que evidenciou relação entre o exercício físico e câncer de mama foi realizado em 1985 que comparou a taxa de câncer no sistema reprodutor entre jovens universitárias atletas e sedentárias. Nesse estudo, as jovens atletas apresentaram um risco 44% menor comparadas as mulheres que não praticavam atividade física.

Acredita-se, que exista um padrão dose-resposta em relação aos benefícios do exercício físico.. Os atletas de elite tem menor mortalidade por todos os tipos de câncer (40%) do que a população em geral. Para o câncer de mama, as causas podem ser relacionadas à menores valores de Índice de Massa Corpórea (IMC) e menores níveis séricos de hormônios sexuais.

Muitos estudos foram realizados em ratos e humanos para tentar determinar de que forma a atividade física seria capaz de prevenir o câncer, sabe-se que o exercício físico em humanos promove uma série de mudanças, que está relacionada à intensidade e duração do exercício, como aumento no débito cardíaco para atender às demandas de oxigênio, mudança no padrão do fluxo sanguíneo, com aumento da taxa metabólica, aumento da produção e consumo de glicose e consequentemente aumento dos níveis de lactato devido ao metabolismo anaeróbico nas células musculares.

O sistema endócrino tem papel fundamental na integração das respostas fisiológicas durante o repouso e o exercício, dessa forma as catecolaminas, epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina) são elevadas durante o exercício com maior liberação pelas glândulas supra-renais, levando ao aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, níveis de glicose no sangue e função imune.

A célula imune mais sensível ao exercício agudo é a célula Natural Killer (célula NK), que é mobilizada poucos minutos após o exercício e alcança mobilização máxima após 30 minutos. Acredita-se que o treinamento prolongado não leve ao aumento dos níveis de células NK, mas que mantenha o nível máximo por até 3 h.

As células NK expressam altos níveis de receptores β-adrenérgicos, que são receptores de catecolaminas, especialmente noradrenalina e epinefrina. Administrou-se epinefrina em ratos, observou-se que causou maior concentração de células NK, maior infiltração de células imunes e diminuição no tamanho dos tumores, determinando assim que a epinefrina é uma molécula chave para o controle do crescimento tumoral.

A atividade física afeta os diversos estágios da carcinogênese o qual está relacionado à melhora da ação do citocromo P450, diminuição o stress oxidativo e aumento da ação de enzimas antioxidantes que protegem o DNA das células.

O exercício pode ajudar a prevenir o câncer em modelos em ratos, induzindo a redução nos níveis circulantes do fator de crescimento de insulina-1 (IGF-1),o qual é um mitógeno que desencadeia a proliferação pela ativação da sinalização de Ras-MAPK e previne a apoptose via ativação das vias PI3K-Akt e JAK / STAT. A diminuição dos níveis séricos de IGF-1, aumenta os níveis de proteína p53 celular, sugerindo que o exercício atua como supressor do crescimento tumoral.

O comportamento sedentário está associado à mudança do comprimento do telômero dos cromossomos e como o tecido adiposo é ativo metabolicamente, os adipócitos podem sinalizar vias inflamatórias que promovem crescimento tumoral, fatores estes que estão correlacionados à maior incidência de neoplasias.

Adipocinas, disbiose e alterações do sistema imunológico poderiam ajudar a explicar a relação entre o tecido adiposo e vários tipos de cânceres. Na mama, adipocina leptina pode estimular vias inflamatórias em monócitos, macrófagos, interleucina 6, células T, mastócitos para promover o crescimento do tumor mamário.