Atividade física e câncer – Tratamento Adjuvante

Nas duas últimas décadas, aumentaram-se as pesquisas e atenção clínica para o papel do exercício físico com estratégia adjunta no tratamento oncológico, visando melhoria da fadiga, da qualidade de vida e sobrevida do paciente.

Pacientes com câncer apresentam níveis elevados de biomarcadores inflamatórios e maior estresse oxidativo que reduzem o desempenho neurocognitivo na vigência de quimioterapia. O exercício físico, concomitante ao tratamento quimioterápico, diminui esses biomarcadores, aumenta à capacidade antioxidante sistêmica (41%), reduzem a oxidação de proteínas (36%), preservam a função neurocognitiva e reduzem a fadiga.

O crescimento do tumor sólido é dependente da angiogênese, apoiado por níveis aumentados de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e outras citocinas pro-angiogênicas no microambiente tumoral (TME). A expressão do VEGF é aumentada sob condições hipóxicas, impulsionada pela sinalização através da via do fator induzido por hipóxia-1 (HIF-1). que cria pressão sobre os novos vasos sanguíneos tornando-os tortuosos e irregulares, com baixa densidade e com má perfusão, levando a maiores áreas de hipóxia, as quais causam incompatibilidade entre oferta e demanda de oxigênio, proporcionando invasão e metástases.

A terapêutica antitumoral atua na angiogênese e na normalização vascular. Um dos efeitos mais bem documentados do exercício físico são as alterações vasculares visto que aumentam os níveis de VEGF no tumor, densidade do vaso e perfusão. Esse aumento na quantidade e melhora vascular proporcionam maior exposição à quimioterapia, pois promovem um fluxo sanguíneo homogêneo para todo o tumor eliminando áreas não expostas à droga.

A atividade física aumenta os níveis circulantes de IL6, que pode promover a regulação positiva das moléculas de adesão no endotélio vascular do tumor, promovendo assim a mobilização de células T. Causa, também, redistribuição de células NK de forma dependente de epinefrina e IL-6, e essas células NK maduras têm atividade citotóxica contra células cancerosas. Um exercício vigoroso de 45 a 60 minutos aumentam as concentrações de células NK em 10 vezes e as células T CD8 + aproximadamente em 2,5 vezes.

A hipóxia causada pela proliferação tumoral diminui a eficácia do tratamento radioterápico e predispõe ao aumento de metástases.

Estudos em mulheres com câncer de mama na América do Norte, afirmaram que o exercício durante o tratamento previne o declínio da função cardiorrespiratória e cardiovascular, melhora a composição corporal (manutenção da massa muscular), melhora a imunidade, melhora a força e flexibilidade, melhora a imagem corporal, a autoestima e o humor, reduz o número e a gravidade das náuseas, fadiga e dor, reduz a duração da hospitalização, melhora as taxas de conclusão da quimioterapia, reduz o estresse, a depressão e a ansiedade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Há evidências de que o exercício físico pode diminuir os efeitos deletérios da quimioterapia e ser adjuvante no tratamento oncológico, no entanto no nosso país pouco se discute sobre o assunto e se carece de centros oncológicos públicos e privados que ofereçam programas de exercícios para os pacientes oncológicos. Uma grande parte da população e mesmos profissionais da área da saúde ainda acreditam que os pacientes devem fazer repouso durante o tratamento e a atividade física é contra-indicada.